Chick Corea ao cubo


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Os álbuns The Leprechaun, My Spanish Heart e The Mad Hatter, se não foram pensados dessa forma, bem que podem ter formado uma trilogia


Chick Corea

Chick Corea dispensa apresentações. Para quem não sabe a extensão da sua carreira, o tecladista é um dos mais prolíficos e aclamados artistas de jazz da segunda metade do século 20, com contribuições para a maioria das formas de música moderna, incluindo jazz, jazz rock (ou fusion), música de vanguarda e orquestral.

Como membro da banda de Miles Davis na década de 1960, e mais tarde como fundador da Return to Forever, ele participou do nascimento do movimento de jazz-rock (ou fusion). Nos anos 80, ajudou a expandir o jazz com a Chick Corea Elektric Band e a Akoustic Band.

Recentemente, excursionou com o quarteto clássico de Return to Forever e gravou duetos amplamente aclamados com o vibrafonista Gary Burton, o banjoísta Bela Fleck e a pianista Hiromi. Ganhou o último de seus 17 prêmios Grammy em 2009 pelo Five Peace Band Live, gravado com John McLaughlin na guitarra.

Se eu entrevistasse Chick Corea, poderia sanar algumas dúvidas sobre sua carreira. A primeira delas seria sobre a intencionalidade ou não dos três discos lançados a partir de 1976, que, para mim, formam uma trilogia. Talvez deveríamos discutir porque adoramos trilogias.

Não é porque estou em campanha para Corea a nenhum cargo político, mas é que os assuntos com ele são inesgotáveis. Há sempre o que se falar sobre esse cara. Que ele é prolífico, já escrevi acima, mas ter lançado três incríveis álbuns no mesmo ano é um feito e tanto.

Em 1976, lançou Romantic Warrior, com seu grupo Return to Forever, The Leprechaun e My Spanish Heart. Obviamente, 1977 foi um ano sabático em que “só” lançou dois discos com a Return To Forever: Musicmagic e Live, uma linda caixa com três LPs – na verdade a turnê impediu o trabalho de estúdio – e um encarte com muitas fotos.

Chick Corea - The Leprechaun
The Leprechaun

Mas ele retornou em 1978 com The Mad Hatter, Friends, Secret Agent, Circulus e um disco ao vivo de duo de pianos com Herbie Hancock, An evening with… Se eu fosse falar sobre um único ano de trabalho de Chick, teria que usar todo este espaço, por isso resolvi me ater a esses três trabalhos que, se não foram pensados como uma trilogia (a tal pergunta que eu gostaria de fazer), bem que poderiam ser: The Leprechaun, My Spanish Heart e The Mad Hatter.


A trilogia de Chick Corea

Todos os três álbuns têm em comum o fato de serem criados em torno de um conceito e uma grande variedade de instrumentação. Em 1976, o rock progressivo estava fechando seu ciclo e os álbuns conceituais praticamente faziam seu “canto do cisne”, estavam para morrer. Nem se pensava em internet, então imaginar download de músicas era algo que não passava pela cabeça de ninguém.

Chick Corea - The Mad Hatter
The Mad Hatter

Os álbuns conceituais eram algo comum, mas absolutamente pouco comuns no jazz, em que o clima entre os músicos, o grau de entendimento e evolução pessoal de cada um sempre foram mais determinantes do que um conceito mais extenso. Alguns enveredaram por esse caminho, mas são poucos. Posso citar aqui de memória e sem ir muito à fundo, Duke Ellington com seu trabalho sacro, Dave Brubeck com seus dois álbuns em que brincava com divisões incomuns, e Oscar Peterson com seu Nigerian Marketplace.

Categorizar The Leprechaun e The Mad Hatter é extremamente difícil. O estilo geral é jazzístico-improvisado, por vezes clássico, e em alguns momentos inspirado pelo progressivo. É muito difícil categorizar essa música em apenas uma das disciplinas.

O conceito em todo o álbum não é muito claro, mas há um sabor místico: The Leprechaun, o duende, uma criatura da mitologia irlandesa que é bastante maliciosa e malcriada. A atmosfera é doce, otimista, mas sem cair no cafona ou piegas. As músicas são executadas por grandes grupos, incluindo baixo, bateria, sintetizador e outros aparelhos, piano, voz feminina, instrumentos jazzísticos acústicos como flauta e saxofone, instrumentos clássicos como quarteto de cordas e alguns metais.

Chick Corea - My Spanish Heart
My Spanish Heart

Toda essa riqueza não é jogada na nossa cara, muito menos exposta de uma vez, mas desenvolvida sutilmente por todo o álbum. Alguns instrumentos vêm e vão, alguns tem participação curta, certas músicas consistem de poucos instrumentos, enquanto outras são mais orquestradas e mais amplamente desenvolvidas. E o caminho mais próximo, “The Leprechaun´s Dream”, é o clímax: uma faixa muito rica e ampla, que varia de uma banda de jazz rock a um quarteto de cordas, a alguns metais e todos juntos. As manobras entre todos esses sons e estilos diferentes são fenomenais e apresentam muito bem a genialidade de Corea.

Tenho que mencionar, que as capas dessa trilogia não são lá essas coisas. Há um fator de brega nelas, principalmente The Leprechaun e Mad Hatter. My Spanish Heart escapa por pouco, resvala até, mas a despeito dessa escolha extremamente duvidosa, o som é aquilo que se pode esperar de Corea. A composição, a execução e a musicalidade são incríveis, da mais alta qualidade. O tecladista fez uma pausa no Return to Forever, que seria reformulado, para gravar esse álbum mais jazzístico. Dentre os músicos estão o velho amigo, saxofonista e flautista Joe Farrell, os baixistas Eddie Gomez e Anthony Jackson, o baterista Steve “octopus” Gadd, a também tecladista e vocalista (e esposa) Gayle Moran e mais trombonistas, trompetistas e violinistas.



Quer ler mais sobre a suposta trilogia de Chick Corea e conhecer os detalhes dos álbuns?  Acesse gratuitamente a edição 54 da revista digital Teclas & Afins e leia o artigo de Alex Saba!


Alex Saba é tecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor com cinco discos solo e dois álbuns ao vivo, um com o Hora do Rush e outro com o A&B Duo, com participação de Guilherme Brício, lançados no exterior pelo selo Brancaleone Records. Produziu e  dirigiu programas para o canal TVU no Rio de Janeiro e compôs trilhas para esses programas com o grupo Poly6, formado por 6 tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Diário e da revista Teclado e Áudio. www.alexsaba.com.br



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