Ladies and Gentlemen, Keith Emerson!


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Emerson Plays Emerson Welcome Back My Friends To The Show That Never Ends. Dito isto, vamos aos fatos: Emerson Plays Emerson, do saudoso mestre Keith Emerson, não é um disco para todo e qualquer fã do Emerson Lake and Palmer. Mas se você não se importa com isso, vá em frente! 

(por Alex Saba)

Emerson Plays Emerson não tem um único Moog, não tem a bateria de Carl Palmer e nem a voz de Greg Lake. Nenhum desses elementos faz falta, mas poucos estão dispostos a ouvir piano solo. Nunca fui um desses e, ao contrário da maioria, esperava ardentemente que meus tecladistas favoritos gravassem alguma coisa em piano para que eu pudesse compará-los. É muito “fácil” iludir os ouvintes com pilhas de sintetizadores. O mesmo não se dá com um instrumento tão nobre como o piano.

Keith Emerson sempre teve no piano seu maior companheiro. Suas músicas eram compostas nele e depois “convertidas” para o arranjo de sintetizadores, órgãos, clavinetes, melotrons etc. Nesse disco, ele tem a chance de colocá-lo em primeiríssimo plano.

 

Emerson Plays Emerson faixa a faixa

O material é um tanto diverso, mas passada a primeira faixa, a balada “Vagrant”, encontramos o  velho Keith Emerson de sempre em “Creole Dance”, do argentino Alberto Ginastera, de quem eternizou para  o público progressivo a bela “Tocatta”.

Essa segunda faixa traz toda a energia do velho (por que não?) ELP. Mas o bom de ouvir apenas o  piano é que o músico tem a chance de mostrar e provar para o que veio. O contraste entre “Creole Dance” e a terceira faixa “Solitudinous” é característico disso. É uma música muito bonita, que deixa claro que Emerson foi de fato um bom compositor e não só um músico dado a piruetas.

Curioso Keith citar o comediante Dudley Moore no encarte – por sinal, ponto forte do disco, cheio  e bons e pertinentes comentários do artista -, mas é que por aqui poucos sabem que ele era um bom (não o vi tocar muito) pianista clássico. Em “Broken Bough”, Emerson presta-lhe um tributo. Vale a pena ficar de olho em um especial que volta e meia a TV a cabo reapresenta com Moore falando sobre música clássica com diversos maestros e regendo além de tocar.

A “Cajun Alley” já traz o lado mais “mundano” de Emerson que, por vezes, aparecia em uma ou outra música curta do ELP, como “Benny Bounce”, e esse estilo (Cajun Music, típico da Louisiana francesa) lembra muito os boogie-woogies que ele tocava nos improvisos de piano e no álbum Works 2. 

Já “Prelude To Candice” é outra balada, trilha do filme italiano Murderock, mas que tem a harmonia característica das composições do ELP. Fica o suspense de quando entrará a bateria de Palmer ou o vozeirão de Lake.

A “Blade Of Grass” tem uma historinha curiosa, daquelas que gostamos de contar para os amigos. Ele conta que durante a gravação de “Black Moon”, enquanto o produtor Mark Mancina regulava o console, ele improvisou um pouco ao piano. Mancina veio ver e, como já estava tarde, marcaram a gravação para o dia seguinte. Pois ele chegou no estúdio, foi ao banheiro e, quando tirou o  casaco, ouviu um “clunk” e um “splash”. A agenda eletrônica dele caíra dentro do vaso (isso mesmo) e ficou boiando lá, inutilizada e com a partitura dentro dela. O jeito foi se concentrar  (quem ler o encarte original vai saber o que envolveu a “concentração”) e tentar relembrar o que escrevera. Parece que deu certo.

 

“Outgoing Tide” tem uma introdução um tanto suspeita, mas os primeiros acordes da melodia  parecem a tempo para salvar e faixa. É uma composição muito pianística e não é qualquer um que se sai bem com a dinâmica e a entonação que ela pede.

Eis que surge “Summertime”. Isso mesmo, talvez a música mais gravada de George Gershwin, mas não há nisso nenhum demérito, pois ela permite as mais variadas interpretações e Emerson opta por uma levemente mais jazzística. Eis que surgem aqui pela primeira vez outros músicos. Mike Barsimanto e Jerry Watts, na bateria e no baixo, respectivamente, o acompanham. Kevin Gilbert, amigo de Emerson, foi o responsável por ligar os gravadores e gravar essa versão, que, pelo indicado, foi primeira e única.

“Interlude”, como ele mesmo diz no encarte: “Is what it is”. “Roll’n Jelly” é uma brincadeira com o nome de Jelly Roll Morton, pai do piano jazzístico que libertou e dignificou os pianistas, antes meros fazedores de música em bordéis. Emerson está completamente à vontade no estilo.

Na música seguinte (“B&W Blues”), mais dois músicos aparecem: Frank Scully (bateria) e Rob Statham (baixo). O trio está bem melhor aqui, principalmente por causa do baixo de Statham,  ais presente e ensaiado que o de Watts. Um tema de blues com uma levada jazzística ao estilo  de Oscar Peterson. Pelo que conhecemos de Keith Emerson, o “B&W” do título deve muito bem se referir a uma conhecida marca de malte uísque.

Chegamos, pois, a “For Kevin”, uma música gravada ao vivo e em memória do amigo (então falecido) Kevin Gilbert. Foi gravada em 1996 e, apesar do timbre, ou foi gravada em um piano  midiado” ou foi usado um sintetizador (prefiro a primeira opção por causa dos acordes finais, pois não havia sintetizadores tão bons assim nessa época gerando sons de piano). Umas irritantes cordas aparecem por trás da melodia, uma espécie de réquiem. Vale por conta da  homenagem e por sentirmos a “humanidade” de Emerson ressentido pela perda do amigo.

“The Dreamer” é outra música de cinema, do filme Best Revenge. Nota-se que Keith não é um  compositor de trilhas, mas de músicas. Ouça e concorde ou discorde.

Keith Emerson Fire

Em “Hammer It Out”, Keith lembra que o piano é um instrumento da família da percussão (por causa dos martelinhos que batem nas cordas). Nessa composição, ele lembra (mesmo!) disso.

“Ballad For A Commom Man” não é o que eu esperava. O que eu queria? Talvez que ele tocasse a composição de Aaron Copland sem aquele timbre chato do órgão Yamaha que ele usou para gravá-la em Works 2. Como ele diz no encarte que a fanfarra nós já ouvimos, fiquemos, então, com a balada. Em tempo: a “Fanfarre For A Commom Man” é parte da belíssima Sinfonia Nº 3 de Copland. Vale conferir!

“Barrelhouse Shakedown” apareceu pela primeira vez como lado B do compacto simples que tinha “Honky Tonk Train Blues”, que está em Works 2. Aqui, ela aparece em uma nova gravação sem os colegas do trio e a orquestra do mesmo álbum, mas nem por isso perde o brilho e o colorido. O cara se divide em dois para tocar uma coisa dessas, mas essa é a beleza do piano. Compare as versões e veja por você mesmo que ele se divide em muitos mais suprindo as partes da orquestra.

“Nilu’s Dream” é outra balada. Estávamos vindo em um ritmo crescente e este tema serve para colocar as coisas de volta em  ambientes mais calmos. Funcionaria como “introdução” para a música seguinte (“Soulscapes”), mas a diferença entre os timbres dos pianos é tanta que quase assusta. Não que sejam ruins, apenas nota-se que mudou.

“Close To Home” é outra das três faixas ao vivo do disco. Gravada em 1992, no Royal Albert Hall, é bem interessante apesar do mesmo timbre com cordas. Acredito que ao vivo funcionasse bem, mas no disco as cordas soam um pouco mais do que deviam. Mas aqui temos os glissandos e outras figuras rocambolescas que aprendemos a gostar no nosso amigo.

Emerson Plays Emerson é um álbum com faixas suficientes para ninguém dizer que foi iludido. Estamos indo para a vigésima-primeira e esta foi a razão por me interessar por esse disco. Keith  Emerson toca com seu ídolo: Oscar Peterson. Mas não é só  isso, eles tocam “Honky Tonk Train Blues”, um clássico do grande (em todos os sentidos) Meade Lux Lewis. Mas espere (parece anúncio de facas da TV), tem mais: eles são acompanhados por uma big band. É fantástico! Muito bom! Queria estar em Londres em 1976 para assistir a esse programa do tio Oscar, Piano Party, onde ele convidava pianistas famosos (na verdade seria muito estar em Londres nessa época por todos os motivos).

 

 

Sendo assim, chegamos à última faixa do disco, a vigésima-segunda. Deveriam ter incluído essa faixa como um bônus. Não que ela seja ruim, mas é de pouco interesse ouvir Keith Emerson tocando piano aos 14 anos. Vale o registro histórico. É engraçado ouvir o som de “taquara rachada” e desafinado do piano, mas com certeza não é imperdível como algumas das faixas que a antecedem. Eu disse imperdível? Pois é, esse disco é imperdível para os fãs de outrora.

Keith Emerson

 

 

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