Chick Corea, O Grande


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Uma homenagem discográfica ao grande nome do piano jazz que viveu e se foi como uma criança, deixando uma obra maravilhosa, com uma mensagem implícita de companheirismo e amor (Por Alex Saba)


O mês de fevereiro começou com uma péssima notícia: no dia 10, recebi uma mensagem de um amigo dizendo que Chick Corea havia falecido. Imediatamente, ainda pasmo, repliquei para outro amigo, que retornou com outra mensagem dizendo que era mais uma “fake news” e passamos os 15 minutos seguintes buscando notícias reais, ainda incrédulos. Mas, infelizmente, era verdade. Em 09 de fevereiro de 2021, Chick Corea havia falecido.

Qualquer coisa que eu vá escrever aqui não vai chegar nem perto de fazer jus à importância do trabalho dele para a música, então fiquei pensando em como honrá-lo. Dizer que foi indicado 60 vezes ao Grammy e ganhou 23 vezes me pareceu completamente desmedido. Ele não foi um artista que se resumia a prêmios e vendagens como tantos por aí. Fiquei olhando seus discos na minha estante e pensando em como tenho pouca coisa dele. São só 32 discos de uma discografia imensa e de alto nível. Resolvi coletar informações, contar alguma coisa dele, mas principalmente, algo dessa imensa discografia.

A história

Armando Anthony Corea nasceu em 12 de junho de 1941 na cidade de Chelsea, no estado de Massachusetts. Seu pai, Armando Corea – filho de um imigrante italiano da região da Calábria – era trompetista de jazz, líder de uma banda de Dixieland nas décadas de 1930 e 1940 e o fez começar a estudar piano aos 4 anos de idade. Aos 8, Chick Corea começou a tocar bateria, o que, provavelmente, ressaltou o lado percussivo de seu piano. Nessa mesma idade, começou a ter aulas de piano com Salvatore Sullo, professor que apresentou a música erudita ao garoto que vivia em um ambiente jazzístico e influenciado por nomes do bebop como Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Bud Powell, Horace Silver e Lester Young, dentre outros. A carreira musical começou ainda no colégio, com um smoking emprestado do pai, mas foi no início da década de 1960, com Mongo Santamaria, que se apresentou profissionalmente, seguindo outros band leaders como Willie Bobo, Blue Mitchel, Herbie Man e Stan Getz. Em 1966, gravou Tones for Joan´s Bones, lançado em 1968.

Dois anos depois, lançou um álbum com o trio formado por Roy Haynes e Miroslav Vitous. Era Now He Sings, Now He Sobs. Corea mudou-se para a cidade de Nova York e estudou música por um mês na Universidade de Columbia e por seis na Juliard School, mas, decepcionado com o ensino que havia por lá, abandonou as duas.

Integrou a banda do mestre Miles Davis e participou de vários álbuns importantes, 15 no total, incluindo In a Silent Way, em que haviam três tecladistas – além dele, Keith Jarret e Herbie Hancock completavam o trio. Em 1970, com o baixista Dave Holland, também da banda de Davis, formou o grupo Circles, tendo gravado para a Blue Note e a ECM. Foi nessa época, que além de explorar um estilo atonal, passou a dedilhar as cordas do piano, o que se pode ver em vários vídeos disponíveis por aí. Em 1971 partiu para o trabalho solo e gravou em abril desse ano, dois ótimos álbuns para a ECM chamados Piano Improvitations Vol 1 e Piano Improvitations Vol 2.

Assisti um interessante show solo de Chick Corea, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Quando entrei na plateia, notei – era impossível não notar – que havia três pianos no palco. Eu sabia que seria uma apresentação piano solo, mas o porquê de três pianos no palco, só foi explicado durante o show. Corea comentava cada música com a plateia, explicando de maneira brincalhona cada uma delas, de modo nada didático. Não era uma aula de piano, zero didatismo, mas foi uma aula de como manter o público com você mesmo diante de peças mais longas como “Brasília”.

Ao contrário de Keith Jarret – que praticamente entrou mudo e saiu calado, só parando para reclamar de alguém com um daqueles reloginhos despertadores que eram moda na época -, Corea conversou, perguntou, explicou e foi além de qualquer coisa que eu já tinha visto. Alguns anos depois foi que descobri ser isso uma constante nas apresentações dele: “O conceito de comunicação com o público se tornou uma grande coisa para mim na época. O motivo pelo qual estava usando tanto esse conceito naquele momento da minha vida – em 1968, 1969 ou mais – era porque era uma descoberta para mim. Eu cresci pensando apenas em como era divertido tocar piano e não percebi que o que eu fazia tinha efeito nos outros. Eu nem pensei em um relacionamento com o público, realmente, até muito mais tarde”… (Continua na edição 83 da revista digital gratuita Teclas & Afins)


Alex Saba

Tecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor com quatro discos instrumentais solo e um disco ao vivo com sua banda Hora do Rush, lançados no exterior pelo selo Brancaleone Records. Produziu e dirigiu programas para o canal TVU no Rio de Janeiro e compôs trilhas para esses programas com o grupo Poly6, formado por 6 tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Diário e da revista Teclado e Áudio.
www.alexsaba.com.br


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