Tales Machado – Mais que promessa


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Com apenas 18 anos, o pianista já acumula uma trajetória impressionante, marcada por conquistas significativas e um talento extraordinário


O jovem pianista brasileiro Tales Machado vem conquistando destaque no cenário internacional da música clássica. Nascido em 2006 em São Paulo, iniciou seus estudos musicais aos seis anos de idade, influenciado por uma família profundamente ligada às artes. Seu primeiro contato com o piano ocorreu na casa de sua tia, também pianista, e aos oito anos já realizava apresentações públicas em sua cidade natal.

Posteriormente, ingressou na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, onde teve aulas com a professora Cláudia Siste de Assumpção, mestre em Música pela Universidade de São Paulo. Desde muito jovem demonstrou um talento excepcional, que foi posteriormente desenvolvido com a mentoria de Miguel Proença, discípulo de Yakov Zak, e Sylvia Thereza, assistente de Maria João Pires na Chapelle Musicale Reine Elisabeth.

Em 2021, aos 15 anos, Tales conquistou o primeiro lugar no IV Turno do “XXX Concurso de Piano Souza Lima”, um dos mais importantes do Brasil. Na ocasião, apresentou obras de Beethoven, Chopin e Villa-Lobos, impressionando o júri com sua maturidade interpretativa e domínio técnico. A carreira internacional de Tales ganhou impulso com sua participação no festival de inverno “Pianíssimo”, realizado na Casa da Cultura “GES-2” em Moscou. Sua apresentação na capital russa foi recebida com entusiasmo pelo público e pela crítica, consolidando sua reputação como um dos pianistas brasileiros mais promissores de sua geração. Sua estreia na Rússia também incluiu apresentações em Nizhny Novgorod e no Palácio de Inverno do Hermitage, em São Petersburgo, todas com lotação esgotada. Sua interpretação dos 24 Prelúdios de Chopin foi altamente elogiada, sendo descrito como “um mestre da expressão”.

Seu pianismo tem chamado a atenção de importantes figuras do cenário internacional, incluindo Janusz Olejniczak, cuja percepção artística o levou a destacar a singularidade de sua abordagem musical. Atualmente, estuda na Universidade de São Paulo, na classe de Eduardo Monteiro, e é parceiro da Uaná – Association pour les Arts, organização que promove concertos e iniciativas culturais ao redor do mundo. Essa parceria tem fortalecido sua presença internacional, com convites frequentes para se apresentar na Rússia, França, Bélgica, Espanha, Argentina e Brasil. Recentemente, foi convidado a se apresentar na série Pianíssimo realizada por aqui, em São Paulo e no Rio de Janeiro, ocasião na qual conversou com nossa reportagem.


Você está com 18 anos e já é considerado uma das grandes promessas do piano, destaque da sua geração. Como é carregar essa responsabilidade?

É uma coisa interessante, bastante complexa. Porque a gente tem menor quantidade de pianistas do que tinha antes (risos). Mas tenho para mim que a música é um grande propósito. Nem penso muito em carreira nesse sentido do trabalho, de ser uma coisa separada da minha vida pessoal, algo que eu tenha que ter horários, metas e preocupações em relação a como eu sou percebido e como estou no mercado, porque a música começou muito cedo na minha vida, ainda sou muito jovem e já tenho tido bastante reconhecimento. Então, para mim, é quase como se fosse minha forma de viver, que vou produzindo e é uma necessidade para mim. Então, o peso da carreira é muito diluído. Sinto que tenho uma recompensa tão maior do que a carreira… A música, para mim, não está no âmbito da carreira, mas no âmbito de um espaço muito maior, da minha realização interna. Então, acredito que esse peso é um pouco plástico e é exterior. Apesar de, em alguns momentos, ter essa impressão de “eles esperam muito de mim”, não é algo muito frequente, porque estou realmente muito ligado à minha própria produção, que é bastante individual e muito subjetiva e acaba diluindo essa responsabilidade, porque é só a minha forma de viver, como me expresso no mundo. Isso, evidentemente, se tornou a minha carreira.


Quais seus objetivos de carreira, então?

Acredito que tenho um pianismo, uma forma de ver a música e uma forma de tocar bastante particulares. E eu ficaria muito feliz quanto mais isso fosse visto e reconhecido. Tenho um prazer muito grande com grandes plateias, com grandes palcos, e sinto que tem uma coisa um pouco universal na minha forma de tocar. Ainda não tenho uma carreira internacional, mas estive em alguns palcos alguns deles grandes palcos no exterior – e o reconhecimento do público sempre foi bastante grande. Sinto que a música tem esse papel de ser uma linguagem bastante universal. E quanto mais eu toco, mais eu tenho vontade de tocar. Tenho a impressão de que estou cada vez mais me aproximado dessa carreira internacional, desse ideal de carreira, de ter vários concertos, de tocar um grande repertório, porque acredito que a minha forma de tocar, o meu pianismo, é para serviço, ele funciona para ser ouvido,
no coletivo, em grandes palcos. Tenho a impressão de que eu funciono em grandes palcos! Então essa é a minha vontade maior, é o que tenho construído.


Geralmente para construir uma carreira, principalmente participar de concursos, se exige do pianista um domínio do repertório clássico-romântico. Qual sua preferência em relação ao repertório?

Sobretudo, acima de tudo, o período romântico. Algumas coisas do começo do século 20, gosto bastante também, mas acredito que o século 19, começo do século 20, tem um repertório que está alinhado a isso que eu disse, da minha forma de tocar, da minha forma de ver música. No século 19, talvez eu possa destacar sobretudo Chopin e Schumann. É uma retórica que admiro muito, uma forma de construção que me emociona. E os russos, talvez Rachmaninoff, e no século 20, Ravel e Prokofiev. Acredito que esses compositores – talvez eu tenha que falar também de Brahms – são os meus preferidos e os que melhor expressam o repertório que tenho construído.


Quando um músico sai do Brasil, sempre se cria uma curiosidade. E muitos têm vontade de apresentar compositores brasileiros. Essa é uma preocupação sua ou ainda não?

É uma preocupação minha. Tive essa experiência e costumo ter, porque, nos meus concertos no exterior, faço questão de colocar alguma coisa brasileira. E sempre tive um retorno bastante impressionante do público quanto ao repertório. Na última vez que toquei no exterior, nesta última temporada, na Rússia, na Espanha e na Bélgica, acredito que não houve uma pessoa que viesse falar comigo que não coentasse do brilhantismo do Villa-Lobos que apresentei, da Quarta Bachiana. Então, é sempre muito bom apresentar esse repertório no exterior. No meu caso, não é para colocar uma “cota” do Brasil, para abrir uma exceção. Acredito que (Villa-Lobos) está mesmo no grande repertório do piano brasileiro, e os nossos compositores estão com Rachmaninoff, com Chopin, com Schumann, com Brahms. E o público o reconhece como de tanta qualidade. Então é, sim, uma preocupação. E tenho sempre um ótimo retorno em relação a isso.

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