Ahmad Jamal e o fim de uma era


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Em uma quarta-feira de maio de 2014, véspera de sua apresentação no BMW Jazz Festival, em São Paulo, encontramos o agora falecido Ahmad Jamal. Apesar da idade – 83 anos – o pianista demonstrava ser um homem vigoroso, principalmente nos palcos, onde não economizava energia


“Toque como Jamal!” A frase, em tom de comando, foi dita por Miles Davis e repercutia sempre como cartão de visitas do pianista Ahmad Jamal. Não que ele precisasse: seus shows continuavam repletos de muitas novidades e o músico surpreendia a todos com seu estilo único. Apesar de muito influenciado pelos pianistas tradicionais do centro e sul dos Estados Unidos, Jamal nada tinha de conservador em seu modo de tocar e improvisar. Era com completo domínio de seu instrumento e da linguagem jazzística que mantinha praticamente em êxtase suas plateias durante seus concertos. Longe dos experimentalismos cacofônicos e do virtuosismo improdutivo, o pianista produzia música de qualidade, agradável mesmo para os ouvidos menos treinados no universo do jazz.

Engana-se, no entanto, quem acredita nessa aparente simplicidade: Jamal apresentava uma consistente base harmônica calcada em blocos de acordes herdados de Erroll Garner, solos modais muito bem acabados reminiscentes do cool jazz e o uso das pausas, do silêncio, como elemento importantíssimo na construção melódica. Seu estilo era marcado por inovações rítmicas e pela construção de figuras melódicas na mão esquerda, destacandose os ostinatos na região grave, tudo isso regado a um excepcional bom gosto, com o qual explorava texturas, riffs e timbres em vez da quantidade de notas.

História

Nascido Frederick Russell Jones no dia 2 de julho de 1930, em Pittsburgh (Pennsylvania), Ahmad Jamal – nome que adotou após a década de 1950, quando de sua conversaão as islamismo – começou a tocar piano aos 3 anos de idade, desafiado por seu tio a repetir as notas tocadas por ele. Logo depois, começou a ter aulas particulares com Mary Cardwell Dawson, sendo influenciado por diversos estilos, principalmente a música de sua cidade natal e pianistas como Earl Hines e Errol Garner.

Aos 7 anos, foi considerado um prodígio e pouco tempo depois passou a estudar com James Miller. Por volta dos 14, começou a excursionar, sendo aclamado por Art Tatum como uma grande revelação. Em 1950, mudou-se para Chicago, e, depois de atuar ao lado de alguns grupos formou o primeiro trio, chamado Three Strings, com o guitarrista Ray Crawford e o contrabaixista Eddie Calhoun. Como residente no Blue Note de Chicago, o grupo chamou a atenção e ganhou popularidade. Na sequência, já no Embers Club, em Nova York, o trio foi reconhecido pelo produtor John Hammond, que o indicou à Okeh Records.

O formato piano-guitarra baixo resistiu até 1955, com álbuns gravados para a Parrot e a Epic até que, em 1957, o guitarrista foi substituído pelo baterista Vernel Fournier, o que alterou consideravelmente a sonoridade e o estilo do grupo. Trabalhando no Pershing Hotel, de Chicago, o trio – com Israel Crosby no baixo – lançou o álbum ao vivo But Not for Me, que permaneceu nas listas dos mais vendidos por 108 semanas e apresentou ao público sua versão de oito minutos de “Poinciana”, de Nat Simon, marca registrada de Jamal e que foi grande influência para Miles Davis, por exemplo.

Depois de uma turnê pelo norte da África e uma malsucedida tentativa de manter um clube em Chicago, no início da década de 1960, Jamal mudou-se para Nova York e afastou-se da cena musical por três anos. Retomou a atividade em 1964, ainda em formato de trio, e manteve carreira constante, gravando mais de 60 álbuns e flertando com o fusion e os instrumentos eletrônicos.

Durante toda sua carreira, Ahmad Jamal atuou ao lado de vários músicos incluindo George Hudson, Richard Davis, Israel Crosby, Jamil Nasser, Frank Gant, James Cammack, Dave Bowler, John Heard, Yoron Israel, Belden Bullock, Manolo Badrena, Gary Burton, e Idris Muhammad, entre outros. Como sideman, gravou álbuns ao lado de Ray Brown e Shirley Horn.

Entre os vários prêmios com que foi contemplado, destacam-se a nomeação como “Lenda Viva do Jazz” pelo Kennedy Center for the Performing Arts, a medalha de ouro da celebração de 150 anos da Steinway & Sons e sua inclusão no American Jazz Hall of Fame da New Jersey Jazz Society, em 2003. Ativo até o fim de sua vida, Ahmad Jamal faleceu em 16 de abril, em decorrência de um câncer…

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