As histórias de Fragile, do YES


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Fragile é o quarto álbum da banda britânica de rock progressivo Yes. É mais conhecido pela música “Roundabout”, que foi lançada em uma versão editada na forma de single e se tornou o primeiro grande sucesso do grupo


Fragile é um álbum do grupo inglês Yes para lá de interessante. Para começar, é preciso destacar a ativa participação do coprodutor, famoso técnico de som dos anos 70, homenageado pelo trio Emerson Lake & Palmer com a música “Are You Ready Eddie?” no álbum Tarkus. Contam que a frase padrão dele para começar a gravar era “Are you ready?”, daí o título da música, um rock-and-roll quase clássico.

Jon Anderson, Steve Howe, Eddie Offord e Chris Squire

Em Fragile, sua participação aparece logo na faixa de abertura, “Roundabout”, onde um acorde de piano soa ao contrário, invertido, bem coisa de engenheiro de som. Hoje, com um click se inverte uma faixa inteira tocando-a de trás para frente, mas, em 1972, isso era muito trabalhoso.

O engenheiro de som precisava gravar de outra fonte tocando a fita colocada ao contrário. Naquela época, as edições eram muito mais complexas. O uso da lâmina de barbear para cortar as fitas, colocar uma guia entre cada música para colocá-las na ordem certa, era o mais simples a fazer. Só nesse detalhe, que passa desapercebido aos ouvidos de muitos ouvintes, se tem uma ideia da quantidade de detalhes sutis que há nesse trabalho.


O álbum

Fragile, capa de Roger Dean

Não se trata de um álbum qualquer. Apesar do pouco tempo gasto para ser gravado, a presença de Offord mostra que foi pensado e repensado o suficiente para se tornar o clássico que é. A experiência dele com grupos prog também deve ter pesado para sua escolha.

Fragile é o quarto álbum do grupo, lançado apenas 8 meses depois do Yes Album. Com ele temos duas estreias: o tecladista Rick Wakeman, que dispensa apresentações, e o artista plástico Roger Dean, autor da capa e de toda a parte gráfica. A partir desse álbum, essas colaborações se tornaram parte da marca registrada do grupo, como a voz peculiar de Jon Anderson.

A capa de Roger Dean, mostra um pequeno planeta, mas na contracapa, esse planeta começa a se despedaçar e sua população parte em uma aeronave de madeira, que inspirou a capa do álbum Olias of Sunhillow de Anderson, e o filme ainda inédito de Dean, Floating Islands.

Fragile, contracapa

Muito se perguntou a Dean sobre a influência desse conceito após o lançamento do filme Avatar de Jon Cameron, mas tudo o que se conseguiu foi um imenso silêncio do artista. A capa interna traz dois desenhos adicionais. O da esquerda mostra um grupo de criaturas escondidas nas raízes de uma árvore, e o da esquerda um alpinista escalando uma montanha.

No LP original e em algumas versões japonesas, há um encarte preso ao centro, com várias fotos da banda e outros desenhos, tudo por Dean. Esse pequeno e frágil planeta iria aparecer nos álbuns seguintes da banda, como Close to the Edge e Yes Songs, além da nave, que já mencionei, em Olias.


Rick Wakeman e YES

Em uma entrevista na revista ProgRock dos anos 70, um fanzine de circulação restrita, mas que compilava várias revistas importantes a que não tínhamos acesso, li uma matéria onde Rick Wakeman contava que foi chamado para o grupo a fim de trazer “embelezamentos musicais”. Caberia a ele dar um corpo mais orquestral aos arranjos.

Dizem que – por causa disso e de todos os gastos envolvendo seus teclados, o lançamento de Fragile foi antecipado para fazer frente aos custos da gravadora. Isso cheira a fake news, porque não é possível imaginar que tipo de gasto assim tão exagerado a presença de Wakeman trouxe, mas faz parte dos muitos folclores desse disco.


Faixa a faixa

O álbum original tinha nove faixas: “Roundabout” (Jon Anderson/Steve Howe), “Cans And Brahms” (Johannes Brahms, Arr. Rick Wakeman), “We Have Heaven” (Jon Anderson), “South Side Of The Sky” (Jon Anderson/ChrisSquire), “Five Per Cent For Nothing” (Bill Bruford), “Long Distance Runaround” (Jon Anderson), “The Fish (Schindleria praematurus)” (Chris Squire), “Mood For A Day” (Steve Howe) e “Heart Of The Sunrise” (Jon Anderson/Chris Squire/ Bill Bruford).

Dessas nove, cinco eram faixas solo, pouco habituais até hoje, onde cada um dos integrantes mostrava seu talento individual. Dizem que isso foi feito para diminuir o tempo de gravação e lançar o disco mais rápido para pagarem o equipamento de Wakeman. De novo, não se sabe se isso é verdade, mas o resultado é ótimo.

“Cans And Brahms”, a faixa solo de Wakeman com arranjo dele para o terceiro movimento da quarta Sinfonia de Brahms, é considerada até hoje, por muitos, como um assassinato da obra do compositor alemão, mas tem o mérito apresentar a música clássica sem o didatismo em que normalmente é envolta, para um público jovem que muitas vezes não se interessava por ela.

“We Have Heaven” é o “delírio” pessoal de Jon Anderson, em que ele faz todas as vozes. Letra? Esquece! Apenas algumas palavras são usadas para compor a cortina vocal. Tornou-se um clássico. Tanto quanto o barulho de porta se fechando e o de passos que antecedem “South Side Of The Sky”, que vem em seguida.

“Five Per Cent For Nothing” é o baterista Bill Bruford em seu apogeu, em um tema de 16 compassos tocado duas vezes pelo grupo, que segue exatamente as complicadas divisões da bateria. Em “The Fish” é a vez de Cris Squire, com o discreto apoio de Bruford e Wakeman, mostrar seu lado inovador, usando o baixo para tocar todas as partes melódicas.

“Mood For A Day” é Steve Howe sozinho ao violão em uma bonita peça pseudoclássica que parece mais complexa do que é, mas soa bem em qualquer ocasião. “Heart Of The Sunrise” é uma peça longa e mais pesada.“Climática” como quase tudo deles, mas que se escora no excelente baixo de Squire e na base de cordas de Wakeman.


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Alex Saba(www.alexsaba.com.bré tecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor com cinco discos solo e dois álbuns ao vivo, um com o Hora do Rush e outro com o A&B Duo, com participação de Guilherme Brício, lançados no exterior pelo selo Brancaleone Records. Produziu e dirigiu programas para o canal TVU no Rio de Janeiro e compôs trilhas para esses programas com o grupo Poly6, formado por 6 tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Diário e da revista Teclado e Áudio.



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