Houve uma grande mudança no mundo quando os streamings surgiram…
Quando os serviços de streamings apareceram, a música se popularizou. No celular de todo mundo estão os cartões de créditos, agendas, contatos e as músicas, muitas músicas, praticamente todas as músicas do mundo. Podemos enviar uma música nova para um amigo e podemos carregar nossa coleção de músicas favoritas no bolso. Mas, que coleção? Coleção de arquivos dentro de um celular? Coleção de listas? Como tudo o que é digital, não há um suporte físico e nisso a música se perdeu. Do disco de laca, de carnaúba, ao de vinil, ao disco compacto, havia um meio físico. Depois disso, “puff”… virou fumaça. A música morreu. Viva a música!
O fonógrafo (inventado em 1877 por Thomas Edison) e seus sucessores, os gramofones, desenvolvidos a partir de várias melhorias desenvolvidas pelo Laboratório Volta de Alexander Graham Bell na década de 1880, eram objetos rebuscados a serem colocados em um lugar de destaque ao lado, ou não, do rádio, que tinha ainda mais destaque nessa época (Figura 1). Nos anos 60, o que era apenas um objeto virou um móvel. Era grande e combinava rádio, toca-discos e um ou dois gigantescos alto-falantes de 7, 10 ou 12 polegadas, mesmo ainda não havendo a tecnologia do som estéreo, com dois canais (Figura 2).
As casas diminuíram, a tecnologia evoluiu, os aparelhos de som encolheram e saíram de dentro dos móveis para o formato chamado de 3 em 1, um prático aparelho que reunia rádio, toca-discos e o novato gravador cassete. Amplificadores acoplados enviavam o som estéreo para duas caixas externas (Figura 3). Não podemos esquecer que, quase ao mesmo tempo, apareceram toca-discos portáteis que permitiam ouvir discos onde quer que o ouvinte estivesse, desde que houvesse uma tomada por perto. Mas, então, colocaram pilhas neles e podiam ser levados para a praia, para o campo, para realmente qualquer lugar.
Mas havia também os mais sofisticados, que eram peças separadas. A pessoa podia montar o som que quisesse, com sua marca favorita ou a que estivesse disponível, já que era possível importar qualquer coisa naquela época. Então, ela escolhia entre amplificadores, pré-amplificadores, sintonizadores ou tuners ou rádios, gravadores, de fita cassete ou de rolo, toca-discos, equalizadores e outros periféricos. Depois disso, escolhia as caixas por onde sairia o som disso tudo. Era uma experiência e tanto! O entusiasta então ligava tudo, como um piloto de caça na cabine do seu jato, escolhia o disco e havia aquela tensão no ar até a agulha atingir o disco, aparecer o primeiro ruído e a música explodir em toda sua força.
Para os que tinham mais espaço nas suas salas, surgiu uma moda, bem futurística, que praticamente recriava um painel de controle de foguetes, centro nuclear, qualquer coisa assim. Reuniam todos os aparelhos de som em um só móvel, que era muito maior do que qualquer coisa que havia antes. Tudo isso era feito para colocar a pessoa no controle da audição da sua coleção de discos, de fitas cassete ou de rolo .
De repente, em 1979, uma pequena invenção da Sony, aproveitou a pequena fita cassete para revolucionar o mercado com um aparelho chamado Walkman. Com ele, se tinha, pela primeira vez, a chance de ouvir músicas em alta qualidade – na “alta qualidade” possível para uma fita cassete. Alguns tinham até rádio. Os Walkman – originalmente batizados de Soundabout pelo seu criador, Nobutoshi Kihara – mudaram os hábitos musicais das pessoas. Era possível carregar e ouvir seus sons preferidos e, principalmente, sem incomodar outras pessoas. Um dos sócios da Sony, Akiro Morita, queria ouvir ópera durante o trabalho e esse aparelho fez que isso virasse uma febre e muitas pessoas passaram a ouvir música desconectadas do que estava à sua volta (Figura 4).
O digital
Daí apareceram os CDs que, como meio físico, oferecia inúmeras vantagens. A qualidade melhor gera um debate que até hoje não foi resolvido, mas o som era indiscutivelmente mais claro, e havia a maior vantagem de todas que era a impossibilidade de que os chiados provenientes do desgaste dos discos ou de acidentes atrapalhassem a audição. E era apenas mais um aparelho que você incluía no seu painel de avião.
A Sony, então, apareceu com uma versão mais moderna do Walkman, o Discman, que era um leitor de CDs portátil, com a mesma tecnologia de amplificação dos anteriores, mas com todas as vantagens dos CDs. Eram um pouco maiores que a caixinha do CD, para a pessoa levar com ela e ouvir nos headphones ou conectar a um som maior. O aparelho, lançado em 1984, foi sucesso imediato, o que levou a concorrente Philips a lançar seu modelo em 1986. O preço era alto! Era possível comprar um aparelho doméstico pelo mesmo valor. Praticamente um artigo de luxo, mas os preços foram baixando enquanto ele se popularizava, apesar do consumo das pilhas ser absurdo (Figura 5).
Quando o CD parecia soberano, obrigando todo mundo a se livrar das suas coleções de vinil – que ocupavam mais espaço – e que faziam as gravadoras terem lucros incríveis (pois não havia mais o custo de pagar toda a produção para os trabalhos já existentes), alguém teve a ideia de colocar tudo na nuvem e criar um serviço de streaming. Estou pulando a parte em que os CDs permitiam cópias fiéis dos originais, tanto para outros CDs quanto para arquivos menores, compactados, os MP3. E pulo até o próprio Napster, que era um modo de compartilhar arquivos de forma anônima com desconhecidos. Vou pular também as lojas de vendas de músicas como a iTunes da Apple, onde se comprava a música que se queria ouvir e se baixava para um computador ou iPod. Vou pular isso tudo, porque isso durou muito pouco…
Os streamings de áudio mais conhecidos hoje em dia, são o Spotify, a Amazon Music, Apple Music e YouTube Music. Tanto nos Estados Unidos quanto na Inglaterra, o serviço da Apple é mais popular, contando com 40% na América do Norte e 29% no Reino Unido contra 39% e 24% do streaming da Google, dos respectivos serviços nos países mencionados. E a música morreu junto com o suporte físico que a carregava. As pessoas antes, investiam seu dinheiro para ouvir música e hoje a ouvem no mesmo celular em que jogam, conversam, falam, trocam mensagens, assistem vídeos etc.
Se antigamente fazíamos piada com “música de elevador” – que seria a pior trilha sonora do mundo -, quando vejo as pessoas andando na rua com seus fones de ouvido bluetooth, não penso na clara semelhança com os walkmans ou discman da vida, mas sim com o que estariam ouvindo sem prestar atenção. “Música de elevador” virou “música de rua” e distanciou o ouvinte do seu artista favorito que, agora, é só mais um perdido entre milhares e competindo com o “semelhante a” das listas geradas pelos serviços de streaming e patrocinadas pelas poucas gravadoras e artistas que pagam por isso.
O famoso “jabá” das rádios (veja quadro na próxima página) virou um tal de impulsionamento, que vale em redes sociais e serviços de streaming, e você ouve aquilo que querem que você ouça, igualzinho nas antigas rádios. Já me debrucei sobre isso em duas colunas das edições 80 e 81 de Teclas & Afins (se não leu, dê uma olhada lá). Você perdeu o direito de escolha. Perdeu a opção de fazer sua própria trilha sonora, a trilha sonora da tua vida. Só lamento…
Mas a vingança dos analógicos está acontecendo, e não só os saudosistas, mas também as novas gerações, estão procurando pelos antigos vinis. Várias fábricas ao redor do mundo estão reabrindo com novos donos e se adaptando a volumes de produções mais baixos, mas lucrativos, para atenderem a atual demanda.
Futuro?
Segundo a gigante de notícias Bloomberg, os discos de vinil retornarão à cesta de inflação do Reino Unido pela primeira vez em 32 anos, após um aumento em sua popularidade, enquanto os frasquinhos de álcool para desinfetar as mãos serão eliminados da conta, à medida que a pandemia desaparece dos hábitos de compra daquele país…
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Alex Saba
Tecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor com quatro discos instrumentais solo e um disco ao vivo com sua banda Hora do Rush, lançados no exterior pelo selo Brancaleone Records. Produziu e dirigiu programas para o canal TVU no Rio de Janeiro e compôs trilhas para esses programas com o grupo Poly6, formado por 6 tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Diário e da revista Teclado e Áudio.
www.alexsaba.com.br
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