Estrutura de ganho


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Entender as diferentes unidades de medição de sinal é fundamental para qualquer profissional da área, pois cada uma oferece insights específicos sobre o comportamento do áudio


Sabemos que, para uma ótima mixagem, é preciso ter, “si o si”, uma ótima captação. E, obviamente, para ter uma ótima captação é necessário ter uma ótima execução do artista. Essa cadeia de processos, quando bem executada, facilita tecnicamente as etapas subsequentes, pois o material chega mais próximo ao estado ideal para mixagem.

Claro que, na prática, isso nem sempre ocorre, e um grande pecado que se comete ao iniciar a produzir é crer que na mixagem se resolvem todos os problemas causados por negligência dos passos anteriores. Isso, definitivamente, não vai acontecer! Embora ajustes sejam possíveis – e, por vezes, necessários -, a expectativa de que a mixagem resolva falhas significativas é infundada. Uma das falhas mais críticas ocorre na estruturação do sinal de entrada para cada canal, conhecida como estrutura de ganho. Um tema complicado, mas que merece atenção para garantir um resultado profissional ao final. Imagine ter uma execução perfeita e, na captação, nos equivocamos com a quantidade de sinal que chega na DAW?


Então, o que é “estrutura de ganho”?

É o nível do sinal de entrada (ganho) no qual as trilhas de áudio devem ser gravadas para que o material seja adequado ao processo de mixagem. É importante esclarecer a diferença entre “ganho” e “volume”. Na prática, os dois geram aumento da quantidade de pressão sonora do áudio. O termo “ganho” significa o “volume” do sinal de entrada, e o termo “volume” é a quantidade de pressão sonora de saída (volume de saída). Então, quando nos referimos a ganho, estamos tratando do volume (ou quantidade de sinal) de entrada de áudio. Assim, estrutura de ganho é a arte de tratar e parametrizar bem este sinal.

A estrutura de ganho tem como desafio assegurar que o nível de sinal de áudio esteja adequado em cada etapa do caminho do sinal. Esse cuidado é fundamental porque, se o nível do sinal estiver muito baixo, a faixa gravada pode se tornar inaudível ou difícil de processar corretamente. Além disso, níveis baixos podem aumentar o ruído indesejado, como o gerado por um pré-amplificador. Por outro lado, se o nível do sinal estiver muito alto, o resultado pode ser uma distorção audível ou cortes desagradáveis que comprometem a qualidade do áudio gravado. Portanto, ajustar a estrutura de ganho corretamente é essencial para evitar esses problemas e garantir que o sinal seja capturado e processado com a máxima fidelidade possível.

Sabemos que a unidade de medida do áudio é o decibel (dB), e, no áudio digital, dBFS (decibels relative to full scale). Utilizaremos esta última como parâmetro para facilitar o entendimento.


Então, qual nível de ganho devo ter para obter uma ótima qualidade?

É necessário controlar o ganho por todo o caminho do sinal de áudio, desde sua origem até seu canal de destino na DAW. Evidentemente, todo o caminho que o áudio percorre vai influenciar nesse processo, como o microfone utilizado, algum pré processamento do áudio, o préamplificador, o conversor A/D etc., porém, o sinal que deve chegar na DAW (seja qual for) pode estar entre -12 dBFS e -6 dBFS, para termos uma boa quantidade de áudio além de uma reserva para trabalhar no momento da mixagem (headroom).

Essa abordagem de estrutura de ganho mostra ser eficaz na maioria das vezes, não apresentando problemas em relação ao uso de plugins ou à soma digital no barramento de mixagem. Pouco ganho fará que o ruído do sinal (que existe em qualquer ambiente) esteja mais presente e, quando tentamos corrigir na mixagem aumentando o volume, aumentamos também esse ruído presente. Por outro lado, muito ganho pode gerar o clipping, que é quando o processador não identifica mais o sinal acima de um limite e o codifica como ruído.

Ao comparar essa técnica com outras metodologias de gravação, observa-se que a prática mais comumente adotada estabelece a faixa de estrutura de ganho entre -12 dBFS e -6 dBFS de pico. Embora algumas DAW’s ofereçam a opção de medir o sinal de entrada em RMS (Root Mean Square), se a DAW medir apenas picos de sinal (peak), é crucial ajustar os picos máximos para não exceder -6 dBFS em trilhas com ampla faixa dinâmica, enquanto em faixas com dinâmica mais restrita, devese evitar ultrapassar -12 dBFS.

Os conversores A/D (Analógico/Digital) presentes nas interfaces de áudio operam com níveis de referência que garantem um headroom (margem de segurança) adequado, geralmente situando-se em torno de -18 dBFS (variando entre -20 dBFS e -16 dBFS para equipamentos profissionais). Essa prática assegura a captura precisa dos sinais, evitando distorções e preservando espaço suficiente para a pós-produção.

Um aspecto importante a considerar ao medir a estrutura de ganho durante a gravação é a variação na intensidade de execução dos músicos ao longo do processo. É provável que os músicos aumentem a intensidade durante a gravação por conta da tensão, o que deve ser considerado ao ajustar o nível de ganho adequado, ou mesmo verificar se a variação é proposital ou ocasional por parte do artista.

Por fim, em situações em que se recebe faixas de áudio gravadas em outros ambientes, cujas estruturas de ganho não recebe faixas de áudio gravadas em outros ambientes, cujas estruturas de ganho não estejam balanceadas, é essencial adotar técnicas de compensação para assegurar a integridade e a qualidade da mixagem final, se possível, e, se não, sempre averiguar a possibilidade de refazer uma gravação inadequada.

No contexto do áudio digital, existe uma faixa ideal de operação onde a qualidade sonora atinge seu ápice, frequentemente identificada no âmbito do áudio digital em -18 dBFS que é o equivalente a 0 dBVU no domínio analógico. Esse valor é crucial porque, nos equipamentos analógicos como compressores, equalizadores e préamplificadores, o medidor VU, com sua característica agulha, indica o nível de sinal ideal. Quando essa agulha se aproxima ou atinge 0 dB em um medidor VU, o equipamento está operando em seu ponto de rendimento ideal. Esses medidores VU foram projetados justamente para auxiliar o engenheiro de áudio a identificar quando o sinal está no nível mais adequado para a operação dos equipamentos analógicos.

É importante destacar que 0 dB no medidor integrado ao software de áudio (DAW) não deve ser confundido com 0 dBVU. No ambiente digital, o 0 no medidor corresponde a dBFS (decibéis full scale). Esse 0 dBFS indica que o sinal atingiu seu limite máximo antes de ocorrer distorção. Portanto, deve-se evitar gravar sinais que atinjam ou ultrapassem esse nível, a menos que o objetivo seja, deliberadamente, alcançar um som distorcido. Ao abordar o processo de mixagem em uma DAW, é essencial localizar o ponto ideal do sinal de áudio, mas é crucial observar que cada software de áudio exibe o nível de -18 dBFS de maneira visualmente distinta.

Por exemplo, no Pro Tools 11, -18 dBFS é indicado em uma posição um pouco abaixo do meio do medidor, enquanto no Logic Pro, esse nível é mostrado um pouco acima do meio, e no Studio One, ele aparece ligeiramente abaixo do meio do medidor. Essas variações destacam a importância de familiarizar-se com os medidores do seu software específico para identificar corretamente o ponto ideal. Dada essa variabilidade, surge a questão: como encontrar consistentemente esse ponto ideal de -18 dBFS? Isso nos leva a refletir sobre a importância do ganho inicial, conhecido como gain staging (processo de gerenciar e ajustar os níveis de sinal de áudio em cada etapa do fluxo de trabalho de produção musical).

Minha recomendação para a primeira etapa da mixagem é a seguinte: deixe todos os faders em 0 dB, ouça a música inteira e identifique os picos máximos de cada faixa. Para o nível de pico (PEAK LEVEL), um valor de -6 dBFS é mais que suficiente, enquanto -18 dBFS é apropriado para o valor RMS (Root Mean Square). O gain staging é uma das primeiras e mais fundamentais ações para alcançar uma mixagem equilibrada. É fundamental lembrar que um bom “gain staging” no processo de mixagem estática permitirá obter uma mixagem final bem equilibrada, proporcionando um headroom adequado para o subsequente processo de masterização.

Comparação de unidades de medição de sinal de áudio

No áudio, diferentes unidades de medida são utilizadas para avaliar e controlar o nível do sinal. Cada unidade oferece uma perspectiva única sobre o comportamento do áudio, sendo adequada para diferentes etapas do processo de produção e reprodução.

Para ver uma comparação entre as principais unidades de medição: LUFS, dBFS, VU, RMS, e dBVU, acesse a edição 124 da revista digital gratuita Teclas & Afins clicando aqui!

Wagner Cappia

Pianista, sócio-diretor do Conservatório Ever Dream (Instituto Musical Ever Dream), tecladista, compositor e arranjador da banda Eve Desire e sócio proprietário e responsável técnico do estúdio YourTrack. Músico envolvido na cena metal, procura misturas de estilos que vão desde sua origem natural na música erudita até a música contemporânea, mesclando elementos clássicos e de ambiente em suas composições. Especialista em tecnologia musical, performance ao vivo para tecladistas, coaching para bandas, professor de piano, teclado e áudio.
www.cappia.com.br

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