Aos 87 anos, a pianista continua a demonstrar sua habilidade técnica e sensibilidade estética, levando o público a uma jornada de melancolia e introspecção
A trajetória discográfica da pianista brasileira Clara Sverner, é marcada por gravações emblemáticas e projetos aclamados pela crítica especializada e público. Em seus 87 anos, Sverner continua demonstrando profundo senso estético, primor técnico e jovialidade em suas performances, confirmando porque é considerada uma das grandes pianistas brasileiras da atualidade.
No álbum BRAHMS+FAURÉ, a sutil melancolia e a introspecção, delineiam a linha mestra do repertório cuidadosamente escolhido, entrelaçando peças extraordinárias de dois compositores luminares. De Brahms, Sverner apresenta os Intermezzos Op. 117 (No. 1, 2 e 3), Op. 118 (No. 1 e 2) e Op. 119 (No. 2), e algumas selecionadas valsas das 16 Waltzes, Op. 39. Para muitos,
os intermezzi revelam o microcosmo do mundo emocional do compositor e seu amor secreto para Clara Schumann, em peças de incomparável beleza. De Fauré, por sua vez, a escolha inspirada dos Nocturnes No. 3, Op.33, No. 4, Op.36, e do Prélude No.3, Op. 103 infundiram ao conjunto da gravação, a riqueza do romantismo do final do século 19 e a antecipação do modernismo em algumas de suas tonalidades e harmonias.
É justamente nesse encontro de melodias que a pianista compartilha uma visão de melancolia inerente às peças, explorando magistralmente as sutilezas das partituras e que guardam tantas belezas ocultas. Não existe tristeza nas interpretações, mas é difícil não se emocionar com as tessituras enigmáticas e por vezes ardentes das músicas, que evocam entardeceres contemplativos e crepúsculos tingidos de sentimento. Clara Sverner atendeu à nossa reportagem e nos contou um pouco sobre o álbum.
Nos álbuns Reminiscências, que você lançou anteriormente, você trouxe peças mais populares, que fizeram parte da sua formação e que você tocou durante muito tempo, na adolescência. Como foi voltar a um repertório mais denso?
Esse álbum de agora, na verdade, tem muito a ver com todos os meus outros álbuns. Porque sou muito diversificada, sempre me senti muito livre, até em uma época em que não havia essa possibilidade. Hoje, todos fazem os populares, mas, nos anos 80, o clássico era clássico. Fiz trabalhos com Paulo Moura, mas, fora isso, fiz álbuns clássicos e fui indicada ao Grammy, pelas sonatas de Mozart, pelos álbuns de Chopin. O nome diz, eram reminiscências de diversas fases da minha vida. peças curtas, peças um pouco alegres, outras bem tristes. É interessante que logo depois chegou a Covid… Brahms eu ainda não tinha realmente gravado, nem Fauré. E adoro Brahms. Comecei a tocar valsas de Brahms e, quando comecei a primeira gravação, vi que faltava alto para completar o álbum. Fico realmente contente, porque isso me causou toda essa aproximação com essas peças de Brahms, que tem uma melancolia… Inclusive, entre as minhas olhadas aqui e ali, descobri uma carta de Brahms, sobre um Intermezzo, em que ele diz à sua amada Clara que era melancólica e que ele preferia que tocasse em um andamento um pouco mais lento. Foi interessante saber disso, porque eu estava tocando assim. Achei que ele falou comigo de outro mundo…
Quando o álbum foi gravado?
Fui duas vezes a São Paulo. Me lembro da primeira vez, em maio, e justamente gravei as valsas de Brahms e um Intermezzo ou outro, e voltei em setembro para completar.
E quanto a esse sentimento de melancolia?
Estou muito contente com o resultado e com o que muitas pessoas têm falado. Estou muito emocionada com a minha sensibilidade de ter passado essa atmosfera. É como se fosse um outono da vida. Outono também é bonito, é uma situação bonita, mas não é a primavera. Não fiz uma mais alegre, uma rapsódia, mantive esse equilíbrio… (continua…)
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