O choro no piano


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O contraponto no acompanhamento do choro e os contornos melódicos do violão de sete cordas na música “Pedacinhos do Céu”

No mês de janeiro, a música brasileira celebrou mais uma data muito especial: o aniversário de nascimento de um de seus músicos mais emblemáticos, o cavaquinista e compositor Waldir Azevedo. E, para celebrar essa festa, resolvi compartilhar aqui um arranjo da música “Pedacinhos do Céu” para piano solo. Esta, que é uma das composições mais famosas do nosso grande mestre do cavaquinho, servirá também como material de estudo na construção de melodias de contraponto para a mão esquerda do piano acompanhador ou piano solo no choro.

Por meio de pequenos exemplos e da transcrição das linhas melódicas do violão de sete cordas na gravação de “Pedacinhos do Céu” você poderá absorver um pouco dessa bela tradição do acompanhamento contrapontístico que é uma das grandes marcas do choro e da nossa querida música popular brasileira. Então, viva o choro! Viva Waldir Azevedo! E mãos à obra!

Waldir Azevedo
Waldir Azevedo

O mestre Waldir Azevedo

Nascido em 27 de janeiro de 1923, Waldir Azevedo – que completaria 100 anos de idade – segue como um dos grandes ícones da música popular brasileira e mais especificamente do choro. Embora tenha se destacado como um exímio cavaquinista e compositor, o músico transitava por vários instrumentos como flauta, bandolim, violão e violão tenor, sendo a flauta o primeiro com o qual se apresentou em público pela primeira vez, aos 10 anos de idade, no carnaval de 1933. O jovem Waldir queria ser piloto de avião mas, por conta de problemas cardíacos, não continuou com seus planos de carreira e passou a trabalhar na companhia elétrica do Rio de Janeiro enquanto fazia alguns trabalhos paralelos como músico no Cassino Copacabana e em algumas rádios, como Mayrink Veiga e Cruzeiro do Sul.

Em 1945, e durante sua lua-de-mel, um episódio mudou os rumos da vida de Azevedo: ele foi convidado para integrar o grupo do violonista Dilermando Reis em um programa da Rádio Clube do Brasil. Esse trabalho lhe abriu muitas portas e, pouco tempo depois, ele assumiria a direção musical do grupo após a saída de Dilermando em 1947. Nesse período, começaram as primeiras gravações e, em 1949, o músico alcançou o seu primeiro sucesso com nada menos do que “Brasileirinho”, que se tornou um dos hinos do repertório de choro e peça musical quase que obrigatória no estudo do cavaquinho por causa de seu motivo melódico cativante e seu virtuosismo.

A partir daí vieram diversas famosas gravações do compositor, como “Carioquinha”, “Vê se gostas”, “Delicado” e “Pedacinhos do céu”, entre inúmeras outras, que difundiram a música de Waldir Azevedo para o Brasil e para o exterior, onde ele se apresentou com seu grupo em diversos países. Ao longo de sua carreira, o músico passou por experiências pessoais difíceis com a morte da filha de 18 anos e um acidente em sua mão que o impediu de tocar por um longo período, mas, com o tempo, regressou à sua atividade musical e continuou criativo e produtivo até seu falecimento, em 20 de setembro de 1980, dias antes de começar a gravação de um novo disco.

Waldir Azevedo levou o cavaquinho e o choro para o mundo e nos presenteou com uma imensa obra musical que atravessou o tempo. Com certeza a sua história e sua música seguem vivas nesse novo centenário que se inicia!

O choro e piano

Chiquinha Gonzaga
Chiquinha Gonzaga

O choro é um dos gêneros musicais mais emblemáticos da música instrumental brasileira. Com seus primórdios ainda na segunda metade século 19, o choro nasceu como uma maneira “abrasileirada” de tocar o repertório das danças europeias executadas nos salões do Rio de Janeiro. Grupos pequenos de violão, cavaquinho e flauta interpretavam as polcas, quadrilhas e valsas adicionando elementos rítmicos de danças afro-brasileiras como o lundu, gerando uma levada mais sincopada às tradicionais melodias da Côrte. Com o tempo, os pianistas absorveram o novo estilo musical ainda em formação e passaram a compor peças utilizando essa maneira de tocar mais sincopada. Durante o curso da história do choro, músicos como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Tia Amélia e Laércio de Freitas tiveram papel primordial na solidificação do repertório e vocabulário desse gênero musical para o piano.

Atualmente, uma nova geração de músicos como André Mehmari, Hércules Gomes e André Marques mantém a tradição do choro viva e constantemente evoluindo com composições e arranjos arrojados que englobam elementos de diversos estilos da música brasileira e do jazz.

O papel da mão esquerda no choro

Os choros, em geral, são baseados na figura da semicolcheia e seus agrupamentos, o que gera uma melodia muito ativa ritmicamente e não deixa muito espaço para a mão direita executar outros preenchimentos melódicos ou harmônicos. Por conta disso, uma grande parte do acompanhamento é executado pela mão esquerda, que fornece a “levada” do choro tocando os baixos e os acordes com alguns agrupamentos de semicolcheia, sendo o mais famoso destes popularmente chamado de “garfinho”.

Além da levada com acordes, outro elemento muito característico no acompanhamento do choro são as linhas de contraponto, que consistem em fraseados melódicos na região do baixo. No grupo de choro tradicional, chamado de regional, estas linhas de contraponto são tocadas pelo violão de sete cordas e criam um contorno melódico baseado nas estruturas dos acordes. Quando adaptados para o piano solo, essas linhas de contraponto adicionam maior variedade ao acompanhamento, pois criam diferente texturas rítmicas e principalmente harmônicas, uma vez que os acordes são frequentemente invertidos.

Para o estudo das linhas de contraponto, teremos aqui alguns exercícios de contorno melódico/harmônico baseados nos fraseados do violão de sete cordas, além da transcrição completa do acompanhamento da música “Pedacinhos do Céu”, de Waldir Azevedo, para o estudo da mão esquerda. Para finalizar, temos um arranjo de “Pedacinhos do Céu” para piano solo, demonstrando a utilização das linhas de contraponto na mão esquerda… (continua na edição 106 de Teclas & Afins).

Para ler a matéria completa sobre O CHORO NO PIANO, ter acesso à partitura, às explicações e aos exercícios, acesse gratuitamente a edição 106 da revista digital Teclas & Afins clicando aqui.

Thito Camargo

Pianista, compositor, arranjador e educador com foco em música popular brasileira e jazz. É bacharel em Música Popular pela UNICAMP e mestre em Jazz Performance pelo College-Conservatoire of Music – University of Cincinnati nos Estados Unidos. Por longo período foi músico ativo na cena musical do interior de São Paulo e capital, e desde 2015 atua nos Estados Unidos se apresentando, gravando e ministrando cursos de piano popular e prática de música brasileira para conjuntos em diversas instituições americanas. Como sideman, colaborou com artistas de jazz de renome internacional, como o baixista Christian McBride, o trompetista Etienne Charles e o saxofonista Jesse Jones além de liderar seu próprio trio de jazz brasileiro, Braza Trio, com quem se apresenta nos Estados Unidos. Thito também ministra cursos online de piano clássico, piano jazz, harmonia e improvisação jazzística e estilos de música brasileira.

www.thitocamargo.com

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