Este é o primeiro de uma longa lista de discos essenciais de jazz-rock-funk fusion que todos deveriam conhecer, ter e ouvir
O primeiro disco de jazz-rock que ouvi foi do grupo do Chick Corea, Return to Forever. O álbum era Where Have I Known You Before, mas não era o primeiro do grupo, mas o primeiro com esta formação, logo chamada de “clássica” pelo sucesso que alcançaram.
Corea formou o primeiro Return to Forever perto do fim de 1971 – com Stanley Clarke no baixo acústico, Joe Farrell no sax soprano e flauta e os brasileiros Airto Moreira, na bateria e percussão, e sua esposa Flora Purim, nos vocais – gravando um álbum homônimo. Em setembro do mesmo ano, eles voltaram ao estúdio e gravaram Light as a Feather, uma coleção de melodias de jazz com toques brasileiros, com novas versões de “500 Miles High” e “Captain Marvel”, além da composição mais conhecida de Chick, “Spain”.
No início de 1973, Chick Corea eletrificou o grupo, mantendo Clarke e adicionando o guitarrista Bill Connors e o baterista Lenny White. Em agosto desse ano, gravaram Hymn of the Seventh Galaxy que os elevou instantaneamente ao status das bandas de jazz-rock da época, como a Mahavishnu Orchestra, de John McLaughlin, e o rolo compressor liderado por Joe Zawinul e Wayne Shorter, o Weather Report.
No verão de 1974, Al Di Meola, então com 19 anos e extremamente veloz – influenciando a partir de então, toda uma geração de guitarristas de rock e metal que se concentravam apenas na velocidade – substituiu Connors no Return to Forever. A entrada dele transformou completamente o grupo, inserindo muita energia e cativando inúmeros fãs de rock – eu inclusive – que entraram no mundo do jazz por meio desse álbum e dos dois seguintes (No Mystery, vencedor do prêmio Grammy de 1975, e Romantic Warrior, de 1976, que se tornou o mais vendido dos álbuns de estúdio do grupo). Esse álbum alterna momentos líricos com outros de alta complexidade rítmica, entremeado com pequenos temas de piano solo entre as músicas principais, mas muita, muita guitarra.
Cada um dos quatro álbuns do Return to Forever elétrico é diferente do outro. Os dois primeiros se aproximam, ao caminharem na mesma direção, mas o terceiro parece dar uma “aliviada” na pressão elétrica, com músicas acústicas, e quase foge do jazz-rock, mas ganhou um Grammy. Romantic Warrior, o quarto álbum, de 1976, não foge de nada.
Romantic Warrior é uma mistura de tudo, música clássica, rock progressivo, funk, jazz, rock, com solos explosivos de guitarra e de sintetizadores, além de ótimas passagens com o dinâmico piano de Corea. Não sei qual foi a inspiração para o título, mas com certeza algo que Corea andava investigando. Seu álbum The Vigil o traz em uma armadura bem parecida com a desse álbum.
Recebi por email, diretamente dos herdeiros de Chick Corea, pelo newsletter que assino, a explicação dele para o nome da banda e é bem interessante:
“Em 1971, enquanto eu estava dirigindo pelo país sozinho no meu Volkswagen Squareback voltando de Los Angeles para Nova York, eu estava pensando na nova banda que eu queria formar – uma banda que daria muito ritmo, groove e melodias líricas ao público. Era uma música que podia elevar o ânimo das pessoas e trazer algum prazer para suas vidas. Quando voltei para a cidade, lembrome de começar a compor e organizar as músicas que se tornariam o primeiro álbum Return to Forever. Ao terminar a primeira peça, eu tinha um certo conceito que queria expressar. Foi uma declaração poética expressando o que eu e, me pareceu, todas as pessoas estavam tentando fazer – a coisa pela qual todos nós estávamos lutando: o conceito de voltar à verdade simples que é o nosso eu básico, e a maneira como somos nativamente como indivíduos, sem todos os estresses, dúvidas e inseguranças que se acumulam ao longo do caminho. Assim veio a frase ‘Retorno ao Eterno’. ‘Para sempre’ foi à minha maneira de expressar ‘o tempo todo/sem tempo/ fora do tempo’. Parecia que éramos pessoas muito mais simples quando éramos jovens – portanto, um ‘Retorno a’ de que a simplicidade da vida era o objetivo que eu estava tentando descrever – um Retorno à Eternidade.”
Chick Corea, 2008 (das notas de encarte para Return to Forever: The Anthology)
Alex Saba
Tecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor com quatro discos instrumentais solo e um disco ao vivo com sua banda Hora do Rush, lançados no exterior pelo selo Brancaleone Records. Produziu e dirigiu programas para o canal TVU no Rio de Janeiro e compôs trilhas para esses programas com o grupo Poly6, formado por 6 tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Diário e da revista Teclado e Áudio.
www.alexsaba.com.br
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