Músicas e compositores simbólicos da trajetória artística do pianista compõe o repertório do novo disco, um imaginário musical que entrelaça o popular e o erudito
O pianista Amilton Godoy dispensa apresentações. E agora, aos 80 anos, comemora a data da melhor maneira para um músico: com o lançamento de um disco especial. O repertório de nove faixas foi escolhido minuciosamente por ele, com um apanhado de músicas e compositores que estiveram presentes em sua formação e carreira. Cada faixa gravada é uma lembrança forte, um imaginário musical emocional que influenciou sua trajetória e que entrelaça o erudito e o popular, gêneros que sempre conviveram em perfeita harmonia em seu universo artístico. Para o novo álbum, Godoy convidou o baterista Edu Ribeiro, o baixista Sidiel Vieira, o gaitista Gabriel Grossi e seu filho, o saxofonista Tico d’Godoy.
“Ainda me lembro do grande maestro e compositor Camargo Guarnieri me perguntando: ‘Amilton, você não poderia gravar o Ponteio 49 com o seu Trio?’ Também me lembro de Jobim ter sido bem incisivo: ‘Amilton, você precisa gravar Bebel!’ Nesse disco comemorativo dos meus 80 anos, tenho a oportunidade de resgatar a minha dívida com esses dois gênios da nossa música brasileira e com outros que permearam toda minha história. O repertório que escolhi levou em consideração a importância que todos os compositores presentes nesse disco tiveram na minha formação e na minha carreira. Cada faixa é a lembrança de um amigo ou do forte imaginário musical que pautaram minha trajetória até aqui”.
Amilton Godoy
Como solista convidado, Amilton teve oportunidades de tocar “Rhapsody in Blue”, de Gershwin com orquestras em diferentes países, mas sempre houve a vontade de fazer uma versão para piano solo, onde a parte orquestral fosse inserida dentro do contexto pianístico. O disco traz essa audaciosa versão, assim como as faixas “Scheherazade”, de Korsakov, “Pavane Pour Une Infante Défunte”, de Ravel, e “Ponteio 49”, de Carmargo Guarnieri, representando seu universo erudito. Do gênero popular, o trabalho traz “Frevo Rasgado”, de Gilberto Gil e Leonardo Ferreira, “Rio Vermelho”, de Danilo Caymmi, Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, “Passarim” e “Bebel”, de Antônio Carlos Jobim, além de relembrar e homenagear Elizeth Cardoso, parceira e amiga, com “Canção de Amor”, de Dorival Silva e Elano Viana de Oliveira Paula.
Amilton Godoy nos concedeu essa entrevista pouco antes do show de lançamento e deu detalhes do álbum e do conceito do trabalho.
Como é isso de misturar erudito e popular no mesmo disco?
Na hora de fazer uma síntese, pensando um pouquinho no que foi importante na minha vida artística, de trabalho, fazendo música, sempre no caminho com o trio, que foi o que me projetou, existe uma bagagem musical muito grande que prepara a gente para certas coisas que, no princípio, você nem imagina que podem acontecer. Me dediquei ao estudo da música erudita durante muito tempo na minha vida, me preparando como pianista. A minha primeira intenção, inclusive, era ser um pianista de música erudita. Fiz várias tentativas. E aquilo, no começo da minha carreira, era importante. A única forma de você aparecer era participar de concursos. Existiam importantes concursos de piano no Brasil. Então, a gente saía de um, se inscrevia no outro, mandava, era aprovado, ia…. Aconteceu isso no Concurso Nacional de Piano da Bahia, que foi o primeiro de que participei. E fui sendo classificado, ia para as finais. Chegava entre os cinco finalistas, que era mais ou menos o que eles faziam antigamente. Era uma coisa importante você estar ali competindo com os melhores que existiam no Brasil naquele momento. Depois, teve um no Rio de Janeiro, onde também fui muito bem, até que houve um concurso aqui do Estado de São Paulo, o Concurso Nacional de Piano. Nesse concurso foi o João Carlos Martins que ganhou o primeiro prêmio.
Recebi uma bolsa de estudos como prêmio pela minha participação. Eu morava no interior, mudei para São Paulo, então estava embalado naquele negócio, até que consegui ganhar o Concurso Villa-Lobos como melhor intérprete. Isso tudo é uma bagagem musical que você vai formando, conhecendo esses autores, tocar Camargo Guarnieri, Ravel, Gershwin, enfim, você começa a formar uma ideia de como você vai poder utilizar aquele instrumento, o piano. A capacidade de você transcrever até algo de orquestra, uma sinfonia, você pode passar para o piano. Ele tem esse poder, de sintetizar isso, desde que você se proponha a fazer uma análise bem-feita, da peça que pretende executar. E foi isso que me motivou. Depois, no Zimbo Trio, de certa forma, minha maneira de tocar piano era diferenciada dos pianistas colegas meus da época que, às vezes, usavam uma certa região do instrumento, tocavam na região central, cada coisa linda que cada um deles sempre fez e faz até hoje. Mas, quando comecei, eu olhava para aquele “tecladão” e achava que tinha que usar tudo aquilo (risos). E os arranjos do Zimbo, a parte pianística do Zimbo, fico analisando hoje, desde o primeiro arranjo, “Garota de Ipanema”, a música começava numa região, daqui a pouco pegava lá no agudo, vem para cá, daqui a pouco um glissando… O fato é o seguinte: minha maneira de tocar era uma forma que usava o instrumento. E foi engraçado porque o pessoal de música erudita que acompanhava minha carreira, também começou a ouvir o Zimbo Trio: “Poxa, que música popular”!
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