Premiata Forneria Marconi – I Dreamed of Electric Sheep


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O novo trabalho do grupo italiano merece ser considerado, desde já, um dos álbuns de rock progressivo mais impressionantes e imaginativos de 2021

Lá em 2003, eu achava que ter uma livraria era um dos melhores negócios do mundo. Abri uma minúscula livraria e, para encurtar a história, causamos tanto movimento, incomodamos tanto as livrarias maiores, que fomos comprados por uma delas, praticamente para nos calarmos. Quando vi todo aquele dinheiro pensei: “vou finalmente poder trocar minha ovelha elétrica por uma de verdade”. Qualquer homem pensaria assim, não? Bem, pelo menos no livro Androides sonham com ovelhas elétricas?, de Philip Kindrek Dick, pensaria. O livro é considerado um divisor de águas por suas ideias e pela forma de narrativa. Foi publicado em 1968 e serviu como grande inspiração para outros escritores, mas, principalmente, o diretor Ridley Scott, que o transformou no filme Blade Runner, de 1982.

O livro é sobre Rick Deckard, um caçador de recompensas que trabalha como um “aposentador” (matador) de androides. Tudo acontece em um futuro próximo, 1992, na época 24 anos após o livro ser publicado, em um mundo futurista, com carros voadores, fotos 3D, televisores e equipamentos complexos. Esse mundo é apresentado como o resto de um planeta afetado por uma guerra nuclear, onde tudo foi tomado pela poeira e as pessoas usam caixas de empatia (algo como videogames) e assistem a um programa mundialmente famoso na TV: o “Buster Gente Fina”, para se manterem “felizes”. Um símbolo de status é ter um animal em casa, mas como a maioria deles morreu ou até foi extinta, as pessoas acham respeitoso ter um bicho em casa e cuidar dele, mesmo que seja um androide (já que animais reais custam uma fortuna).

Grande parte da população da Terra emigrou para Marte e trabalha por lá. Apenas uma parcela menor de pessoas ficou na Terra, geralmente as proibidas de emigrar, conhecidas como “Especiais” (ou cabeças de galinha) por terem um Q.I. abaixo da média. Rick Deckard é uma dessas pessoas que vive na Terra com sua mulher depressiva, Iran, e a esperança de comprar uma ovelha real, já que a sua é uma máquina. Para isso, ele precisa trabalhar e ganhar dinheiro.

Para quem só vê o filme e não lê os livros, nada disso aí faz sentido, porque não há isso no filme Blade Runner, mas deve se lembrar que Deckard é contratado para seis robôsandroides do modelo Nexus-6, que foram construídos para serem exatamente como humanos. Eles são muito difíceis de serem detectados e exigem um teste de empatia, com perguntas sobre situações aleatórias às quais humanos apresentam certas emoções. Isso está no filme, mas acredito que as ideias sobre o que significa nascer, a alma ou, simplesmente, ser um humano não ficam tão claras quanto no livro. Paciência!

O filme é ótimo, a sequência dele não é má, as músicas que Vangelis compôs são inesquecíveis, mas não vou falar da trilha sonora do filme, mas a do livro. Antes, tenho que dizer duas coisas. A primeira é agradecer ao meu amigo Leo, lá dos “isteites”, que recebeu o álbum duplo antes de mim e compartilhou comigo algumas informações importantes enquanto espero o meu chegar. E, a segunda, é pedir desculpas, porque achei que já havia falado desse grupo de italianos que começou a carreira como o grupo de covers Quelli e se transformou, em 1970, na Premiada Padaria do Marconi ou Premiata Forneria Marconi (em homenagem a uma padaria em Chiari, em Brescia) ou simplesmente PFM. Mas a história deles eu conto depois, em um próximo artigo.

O álbum

Nesses tempos malucos em que vivemos, o Premiata Forneria Marconi lançou, depois de mais de quatro anos e influenciado pela pandemia do vírus, um novo álbum: I Dream of Electric Sheep, inspirado no já mencionado Androides sonham com ovelhas elétricas?, que virou Blade Runner nas mãos do cineasta Ridley Scott. Ao longo de tantos anos, alguns integrantes saíram, voltaram, foram substituídos e da formação (quase) original sobraram o baterista Franz Di Cioccio e o baixista Patrick Djivas. Falei “quase” porque Djivas entrou no lugar do primeiro baixista, Giorgio Piazza, no terceiro álbum do grupo, Lísola di Niente (ou The World Became The World na versão americana).

Além dos dois, o site oficial credita o violinista, tecladista e guitarrista – ou seja, coringa – Lucio Fabbri como integrante, mas sabemos que ele está mais para músico contratado, como alguns outros. Os dois primeiros são os autores de todas as músicas, então considero a dupla como o núcleo do grupo. Os músicos apresentados como PFM nesse novo álbum são: Franz Di Cioccio (vocais principais, bateria) Patrick Djivas (baixo, teclados), Marco Sfogli (guitarra elétrica e acústica, vocais de apoio), Lucio Fabbri (violino, viola, vocais de apoio), Alessandro Scaglione (teclados, piano, vocais de apoio) e Alberto Bravin (teclados, violão, vocais de apoio). Como participações especiais, temos Ian Anderson (flauta) do Jethro Tull, Steve Hackett (guitarra elétrica) ex-Genesis, Flavio Premoli (Mini Moog) ex-PFM, e Luca Zabbini (órgão Hammond, piano, Mini Moog) da banda italiana Barock Project. (continua na edição 91 de Teclas & Afins, que você pode acessar clicando aqui!)

Para ler todo o artigo de Alex Saba sobre o álbum I Dreamed of Electric Sheep do Premiata Forneria Marconi, acesse a edição 91 de Teclas & Afins!

Alex Saba

Tecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor com quatro discos instrumentais solo e um disco ao vivo com sua banda Hora do Rush, lançados no exterior pelo selo Brancaleone Records. Produziu e dirigiu programas para o canal TVU no Rio de Janeiro e compôs trilhas para esses programas com o grupo Poly6, formado por 6 tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Diário e da revista Teclado e Áudio.
www.alexsaba.com.br

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