Se você acha que é jovem demais para ter sido tocado pelos tons de veludo do Casio MT-40, pense novamente: o pulso rítmico do “Sleng Teng” persiste em invadir a cultura pop desde seu surgimento
Os períodos musicais são definidos pelo ambiente tonal disponível. Dos home studios aos estúdios profissionais de ponta, o hardware está sempre atuando de maneira central, gerando novas combinações. Produtores são, desse modo, “cientistas” e “organizadores”, “médicos” ou “químicos” em suas receitas de poções de áudio que vibram desde seus estúdio-laboratórios (ou assim deveria ser…).Alguns dos equipamentos de estúdio vintage parecem transmutar as gravações de forma única, e os produtores modernos tentam invocar novamente esses sons de assinaturas características.
Mas, na história da música pop, há alguns casos que surpreendem ainda mais, levando em conta os cenários e os atores inusitados que levaram ao surgimento de uma nova assinatura musical. São fatos que seriam totalmente imprevisíveis e inimagináveis pelos próprios envolvidos, uma sucessão de coincidências que levaram ao surgimento de novos sons.
Esse é justamente o caso do lendário Casiotone MT-40, um teclado de brinquedo, de plástico, lançado nos anos 80, o pai do ainda mais lendário “Sleng Teng”, um “riddim” (pronúncia em patoá jamaicano da palavra Inglesa “rhythm”) de marca registrada que se tornou onipresente no reggae eletrônico e eventualmente em qualquer outro lugar.
Se as raízes do reggae se encontram na África, seus galhos se estendem até o Japão, sobretudo em seu renascimento eletrônico, com dub, dancehall e electro-reggae. Aliás, é importante salientarmos que a música jamaicana tem exercido uma forte influência na música pop, muito além do hip-hop, do ska e do rap, sobretudo no que diz respeito às técnicas de gravação, como o desenvolvimento das técnicas dubbing e toasting, e uma variedade de outras que se desenvolveram a partir disso, inclusive a amostragem, ou sampling.
A complexidade envolvente dos instrumentos filtrados por meio de vários tipos de efeitos alterou a própria concepção de música. A extensão disso é que a própria mesa de mixagem se tornou um instrumento musical, transmutando certos tons em ecos alucinantes, reverbs e delays que envolvem a música em um brilho quase sobrenatural. A estética dub da Jamaica, na década de 1970, se expandiu para a eletrônica, o hip-hop, o house e o dubstep.
Da Jamaica ao hip-hop
Embora pouca gente saiba, a música reggae deve ser reconhecida por estabelecer os primórdios do hip-hop e da música eletrônica como um todo, especialmente por causa do uso de dubbing. E se o hip-hop foi inventado no Bronx, seu inventor era um jamaicano, Kool Herc, que foi fortemente influenciado pelos sistemas de som que conheceu na sua terra natal durante a juventude.
Na época da independência da Jamaica, em 1962, havia uma cena musical crescente em torno dos salões de baile, onde os sistemas de som (um disc-jóquei com grandes caixas acústicas e toca-discos) realizavam eventos e traziam pessoas que faziam toasting (nome dado ao ato de cantar em cima de um instrumental), o precursor do rapping. Geralmente, os deejays (o equivalente dos rappers atuais) usavam um loop instrumental do lado B de um disco de 45 rpm para fazer a base do toasting.
Originalmente, os disc-jóqueis dos sistemas de som costumavam acompanhar as faixas instrumentais com vocais melódicos e vocais falados improvisados, muitas vezes simplesmente para adicionar entusiasmo à dança. Isso acabou se tornando uma arte em si, e a técnica evoluiu para remixar músicas de outras pessoas, removendo os vocais originais, enfatizando a base rítmica e gravando suas próprias rimas na faixa resultante.
U-Roy (Edwart Beckford) foi, possivelmente, o primeiro grande artista de talk-over, o homem que transformou o dub em um veículo altamente eficaz para mensagens de agitação com seus “raps” sociopolíticos. O deejay Kool Herc, um jamaicano que cresceu em torno de sistemas de som, mudou-se para o Bronx em 1967 e, eventualmente, configurou seu próprio sistema. Daí nasceu o scratching, o breakdancing e o “rapping” durante os breaks, enquanto o DJ mantinha o ritmo. Grandmaster Flash (apresentado no Original Netflix “The Getdown”) veio depois de Kool Herc para aperfeiçoar esse estilo. O resto, é história conhecida por todos: o hiphop se tornou um estilo musical dominante desde então.
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Jobert Gaigher é músico, compositor, educador musical, produtor cultural, blogueiro e consultor de marketing para os mercados de áudio e música, é especialista da linha NORD no Brasil desde 2008. Entre os anos de 2001 a 2003 foi gerente técnico da Quanta Service, e então mudou-se para Londres, participando de várias gravações em estúdio e performances ao vivo em festivais e ventos no Reino Unido, Espanha e Itália. Em 2008 retornou ao Brasil, quando idealizou e passou a coordenar o Sistema e-SOM para a Quanta Educacional, sistema multimídia para aulas de educação musical que foi pré-qualificado pelo MEC e incluso no Guia Nacional de Tecnologias Educacionais. www.jobert.info
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